terça-feira, 16 de setembro de 2008

Parte 2 - A Economia Brasileira frente ao processo de globalização


Durante quase um século, de 1.900 a 1.980, o Brasil foi o país que apresentou uma das melhores taxas de crescimento de PIB do mundo. Se considerarmos o PIB per capita, ou seja, por habitante, vamos descobrir que o Brasil foi o segundo, perdendo apenas para o Japão. Mesmo com todo esse crescimento, com todo avanço verificado na tecnologia e na ciência, nosso País não conseguiu erradicar alguns males que nos caracterizam de forma negativa; muito pelo contrário: o que o país conseguiu foi sim criar um verdadeiro paradoxo estrutural: crescemos economicamente, decrescemos socialmente. Concentrou-se muito a renda, mas sua distribuição foi precária. Criaram-se “bolsões de pobreza” aumentando a massa de excluídos.
À economia que foi se abrindo comercialmente desde 1.990 (governo Collor), cometendo desde o início o erro de manter uma taxa de câmbio real valorizada, serviu apenas para que uma pequena parte da população pudesse desfrutar das maravilhas de um consumo importado, à medida em que a indústria nacional se desestruturava por completo, em face de permitir um grau de importação superior ao de exportação. Coube, pois, a outra grande parte dessa população, ficar sem acesso a produtos básicos. Segundo estudos elaborado pelo IPEA, 85 milhões de brasileiros está vivendo abaixo da linha da pobreza. Cerca de 29% desses brasileiros vivem com menos de US$ 1/dia. Entre os 18,5 milhões de aposentados brasileiros, 11 milhões ganham apenas um salário mínimo. De cada US$ 100 dólares de riqueza produzida neste país, US$ 24 são para pagar dívidas com os credores internacionais. Ainda hoje, na Zona da Mata nordestina (área secularmente ocupada pelo latifúndio canavieiro) existem crianças de dois e três anos que mal conseguem falar as primeiras palavras e dar os primeiros passos por causa da subnutrição provocada pela pobreza e pela miséria. No Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, crianças de quatro ou cinco anos são “obrigadas” a tomar algum tipo de aguardente, dado pelos próprios pais, pois só assim conseguem dormir e, dormindo não vão ter fome, pois, simplesmente, não há o que comer.
E mesmo assim, nosso país “ainda” se orgulha de estar entre as dez primeiras economias do mundo.
Econômica e socialmente, o país vai muito mal. Atualmente falta-nos o emprego. E este só falta porque estão faltando os investimentos. Sem os investimentos não se faz renda, por sua vez sem renda não há consumo e sem consumo o país não cresce, avançando assim num processo recessivo. E só teremos investimentos se conseguirmos aumentar a taxa de poupança interna, situada atualmente entre 16% do PIB. Só conseguiremos captar maior poupança se desatarmos o nó da dívida interna.
Entretanto, o governo se quer consegue estimular as exportações, preferindo importar o que poderíamos fazer internamente, preferindo a demagogia barata do discurso fácil do “exportar ou morrer”, parecendo mais a lá Dom Fernando I (em alusão, evidentemente, a Dom Pedro I). Às contas externas estão deteriorados Os déficits externos já chegou a casa dos 5% do PIB. Paga-se muito de juros da dívida externa, algo próximo a R$ 18 bilhões/ano. Isso é simplesmente um orçamento anual do Ministério da Saúde. Esse gasto com os juros da dívida compromete o ajustamento das questões sociais, obrigando o próprio governo a cortar verbas em áreas como saúde, educação e infra-estrutura.
No próximo ano, o governo pretende investir R$ 33 bilhões em saúde, educação etc., enquanto que credores receberão, de juros da dívida, cerca de R$ 69 bilhões. Privatiza-se em nome da busca da modernidade, entrega-se o patrimônio público e o que vemos: além da dilapidação do patrimônio, os serviços decaírem consideravelmente no quesito qualidade. Como mudar esse triste e perverso quadro? Basicamente, há alguns caminhos pré-determinados e bem conhecidos, que são capazes de apontar às direções possíveis, a fim de superarmos essa crise.
Num primeiro plano, o governo precisa ter claro, em suas ações qual é o seu papel quanto à busca de um projeto de desenvolvimento. Para tanto, algumas “reformas” precisam aflorar, dentre elas a reforma agrária, capaz de fixar o homem ao campo, evitando assim seu êxodo em direção às grandes cidades e proporcionando uma substancial elevação da safra colhida.Já com relação à questão tributária, faz-se necessário permitir com que o governo passe a arrecadar mais e melhor. Urge, uma reforma que desonere a folha de pagamento das empresas, caso contrário, os empregos continuarão a entravar. E, por fim, cabe uma reforma da própria política econômica que promova o rompimento de uma vez por todas com as “ligações” nefastas com o Fundo Monetário e, priorize, acima de tudo, a prática dos investimentos para atingirmos o desenvolvimento econômico. Única, somente e impreterivelmente, o desenvolvimento econômico poderá safar o país desse crítico processo que ora vivenciamos, evidenciado nas relações da economia, da sociedade e em nosso viver, no dia-a-dia. Não há como imaginar um país melhor caso não sejam praticados os necessários investimentos, quer sejam eles localizados nos setores primários, secundários e terciários.



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